“Mudança significa movimento. Movimento significa atrito. É melhor ires-te habituando.” – Paulo Coelho
Quando crias rotinas nas acções e nos pensamentos estás a estabelecer as fronteiras da tua zona de conforto.
“Eu não gosto de brócolos”, “20 quilómetros é muito longe”, “eu sou fumador”, “eu gosto de comidas com gorduras”, “eu trabalho 8 horas por dia”, “se eu trabalhar 12 horas fico extremamente cansado”, “eu não sou capaz de fazer isso”, “sempre fiz assim, é assim que eu sei fazer”, “sou sempre o mesmo”, “não há maneira”, “1000 euros é um bom rendimento”, “tenho hipertensão mas isso é normal”, “e quem é que não é obrigado a aguentar um patrão?”, “eu não sou mais que os outros”, “todos fazem assim”, “o que é que eles iriam pensar de mim?”, “havia de ser bonito!”, “eu? Falar com estranhos?”, “eu não gosto de pessoas”, “não sei falar em público”.
Todas estas expressões, e muitas mais que tu, na tua infinita imaginação conseguirás formular, estão a cumprir um papel na tua vida: estão a transmitir-te segurança.
É como se fossem regras de um jogo.
Tu sabes com que contar e as pessoas à tua volta sabem o que podem (ou não) esperar de ti.
Demarcam uma zona confortável para ti mesmo e para quem convive contigo.
– “Correr 10 quilómetros! O António!! Não acredito!”
– “Discutiu com o patrão? Por causa das horas extraordinárias? A Maria? Deves estar
enganado!”
– “Comprou uma casa nova? Quem? O Manel? Nãaa!”
– “A Madalena casou-se? Agora depois de velha? Vai mas é enganar outro!”
– “Então e não é que o Chico até vai à igreja!”
– “Não querem lá ver a Graça! Agora nem põe os pés na igreja!”
– “O Joaquim montou um negócio? Como é possível?!”
– “A Isabel ganha montes de dinheiro? Ela? Estás a mangar comigo.”
– “Olha! O João agora deu-lhe para escritor!”
– “Não querem ver isto! A Lurdes agora deu em pintar o cabelo.”
Já disseste ou pensaste coisas destas em relação a pessoas que conheces e também já o disseram de ti alguma vez? Se não, significa que não está a acontecer anda de interessante na tua vida e nas vidas de quem te cerca.
Mudar significa sair da zona de conforto e quase sempre esta saída provoca atritos.
Quem está conformado e confortável não quer que outros se mexam e tenham sucesso porque isso os vai recordar daquilo que eles mesmos não têm coragem de fazer.
Por isso se diz: “A miséria gosta de companhia.”
Agora… tu é que tens de ver se causas atrito ou não. Se não o causas, talvez não estejas a dar o teu melhor no teu processo de mudança de vida, ou então talvez a mudança seja tão natural no teu modo de vida que já ninguém estranha. Não sei se é este o teu caso, mas ele é sem dúvida o meu.
Por isso conheço a mudança tão bem. Mudo de ideias frequentemente, aprendo imenso todos os dias, estou permanentemente em processo de leitura de pelo menos 3 livros, contacto diariamente com os meus mentores. Um dia pintei o cabelo de laranja florescente. Durou 2 semanas porque a minha mãe se escandalizou e me pediu para tirar aquela cor. Hoje sou músico amanhã escritor, depois atleta. Como comida tradicional e também peixe cru e um dia destes vou começar a ser agricultor e a enterrar os pés descalços na terra acabadinha de cavar. Não aceito que a minha necessidade de previsibilidade me crie limitações e me tire liberdade.
Se criares a cultura da mudança, vais habituar-te aos atritos e eles deixam de te incomodar.
São como um ruído de fundo que já não ouves, de tão permanente.
E a mudança vai expandir a tua zona de conforto e a tua mente.
Com essa expansão vais ter um entendimento único do mundo e, efectivamente, deixas de conhecer limites para aquilo que sabes poder realizar.